terça-feira, 16 de junho de 2009

Novos experimentos: 100% digital

   Após algum tempo (na verdade, um bom tempo) sem postar, criando, testando e estudando novos experimentos, volto com boas novidades para compartilhar. A partir de agora a produção vai agregar uma nova ferramenta: a criação direta de imagens digitais, mescladas com as imagens criadas fisicamente no papel.


   A tecnologia de criação 100% digital não é, claro, a mesma coisa do que se fazer a mão, mas as possibilidades oferecidas são incríveis e infinitas - resultados surpreendentes de forma mais prática, em um tempo muito mais curto, com muito mais agilidade. Tudo isso pode e deve ser explorado, e é esse caminho que estou trilhando. Na verdade, mais interessante do que ver o que não é é ver o que é, e daí utilizar e subverter as possibilidades à nossa vontade. Outra coisa é que quando se fala em criação 100% digital tem-se uma impressão de que anteriormente era "0% digital", o que não é verdade - pelo menos no caso deste curta - e acredito que seja o mesmo em quase tudo feito hoje - , todas as imagens criadas no papel são digitalizadas e tratadas, e a partir daí podem sofrer vários processos: as cores podem ser alteradas, coisas são retiradas, coisas são mescladas, enfim, e não faz então sentido nem dizer que abandonou-se a criação manual e nem que a criação é do computador. Juntamente com um bons programas, são apenas mais ferramentas que utilizamos para chegar a resultados mais precisos, interessantes e adequados para o que desejamos criar. Escrevo isto por que eu mesmo era meio cético com a possibilidade de se criar diretamente no computador, há algum tempo atrás. Eu pensava "não, nem se compara com o feito à mão no papel!", ou "não tem a mesma vida!", mas hoje vejo que isso não faz sentido, que somos nós é que fazemos a ferramenta, e não o contrário.


    Chegando ao processo do "Círculo": após a conclusão do curta Linhas e Espirais, me senti muito inspirado para seguir com experimentos de Pintura no tempo - a técnica utilizada pelos mestres Oskar Fischinger e Norman McLaren, que consiste em se modificar uma mesma imagem sucessivamente quadro a quadro, criando-se uma pintura que se pinta, literalmente. Tradicionalmente teria de ser feita pintado-se em vidro ou em pastel seco ou giz sobre cartão, e fotografado quadro a quadro com uma boa câmera e dispondo-se de uma boa iluminação (que pudesse captar todas as nuances criadas). Enfim, uma estrutura complexa que sempre quis tentar, mas reconheço que nunca tinha me disposto. Digitalmente, no entanto, este processo se torna mais acessível, rápido, simples e a visualização do resultado animado pode ser vista praticamente de forma instantânea. As imagens, claro, ainda são feitas quadro a quadro, trabalhando nos elementos que se quer animar individualmente. A possibilidade da pintura no tempo permite porém nuances muito delicadas e suaves, ao mesmo tempo que cenas complexas de mudanças de cor drásticas e dramáticas podem acontecer... é algo riquíssimo realizar um trabalho assim, e é um desafio que encaro sorrindo :D



   Todas as imagens nesta postagem foram criadas digitalmente, e são trechos que tenho trabalhado, simultaneamente; assim, quando me canso de uma sequência (ou não sei como continuar), descanso de uma trabalhando em outra, geramente bem diferentes uma da outra.

O maior desafio no entanto (e que literalmente me deixa algumas noites em claro, pensando) é mesclar as imagens criadas até então (quase 2.000 desenhos no papel) com a parte pintada à acrílica (centenas de pinturas em papel) e tudo isso com as novas imagens totalmente digitais. Em algumas penso em misturar mesmo tudo (um único frame conter pinturas físicas e digitais), mas com certeza haverão vários blocos de acontecimentos envolvendo variações de movimentos, de cor, de ritmo e de tensão. Algumas coisas ainda estão meio nebulosas na minha cabeça, mas devo (espero) resolver tudo isso em breve; cada cena me motiva mais a seguir em frente, para a próxima.


   Em breve, também, posto alguns testes de animação - ou melhor, trechos de sequências em andamento, pois daqui pra frente não há mais tempo para testes: tudo feito já é final. Vamos em frente, então.